terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Testemunho de Octávio Sérgio

"Conheci-o ainda em Coimbra, embora não convivesse muito com ele. No entanto ainda fui à televisão com o António Portugal e o Rui Pato , em que cantaram o Adriano e o António Bernardino, isso por volta de 1964/65. Aqui cantou três trovas, mas não a do vento que passa, pois a censura não deixou. Mesmo assim ainda deixaram as trovas "Meu pensamento", "Trova do amor lusíada" e "Capa negra, rosa negra".

Já muito depois de deixar Coimbra, encontrei-me com ele em Almada, num espetáculo na Academia Almadense onde fui tocar guitarra com o meu filho na viola e em que também actuava o Adriano. Depois de se ter visto o som, eu e ele demos um passeio por Almada e, muito perto da casa onde eu morava na altura, falando da música de Coimbra, como não podia deixar de ser, veio à baila a Trova do Vento que Passa e então diz-me: "A maior mágoa que tenho foi a de não ter sido também posto o meu nome na autoria da trova". Como sabem, no disco aparecem os nomes de Manuel Alegre e António Portugal. Pela maneira como ele falou, pela tristeza com que o disse e pelo que eu conhecia do seu carácter, fiquei com a certeza que tinha sido sincero.

Outro facto que quero relatar, prende-se com a ida à Televisão do Norte no programa Cantos e Contos de Coimbra, num dia em que eu na guitarra, Machado Soares na viola e Adriano no canto prestámos a nossa colaboração. No final, Adriano sentou-se estafadíssimo num cadeirão e verifiquei o seu lastimoso estado de saúde, com as pernas inchadíssimas. Vieram uns "amigos" do Adriano e atiram com estas baboseiras: "vem daí, vamos beber umas aguardentes". Com amigos destes não há hipótese. Adriano não negava nada a ninguém e foi com eles. Foi a última actuação do Adriano. Morreu um mês depois.

Já agora vou também referir uma actuação no Segundo Festival de Vilar de Mouros, também comigo na guitarra, Durval Moreirihas na viola, Machado Soares, António Bernardino, Gomes Alves a cantar e o meu filho Sérgio Azevedo na viola. Antes tinha actuado Cidália Moreira e o pessoal praticamente não a deixou ouvir-se com a algazarra que fazia. No entanto, quando chegou a nossa vez e os presentes viram quem ia estar em palco, foi silêncio absoluto de princípio ao fim, salvo as palmas, claro. Foi por certo Adriano que acalmou as hostes. A sua figura era respeitadíssima onde quer que actuasse."
Neste vídeo da RTP Porto, de 1982, Adriano canta a Trova do Vento que Passa, acompanhado à guitarra por Octávio Sérgio, e à viola e acompanhamento vocal, por Fernando Machado Soares.

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