quarta-feira, 2 de outubro de 2019

O Canto e as Armas

Sobre um tema que colocou no seu FB, 'Canção da Fronteira' cantado por Adriano Correia de Oliveira e acompanhado por Rui Pato, diz Rui em comentário:

«Ali diz "gravado em 1969" mas eu sou teimoso e digo "gravado em 1970".»

Realmente em todo o lado pesquisado está este álbum como gravado em 1969. Mas se Rui diz que não e tendo sido ele parte 'participante' nesta gravação, há que repôr a verdade.

Rui Pato entrou a 13 de outubro de 1969, como cadete, na Escola Prática de Infantaria em Mafra. Considerando que este LP foi gravado quando Rui Pato estava em Santarém às ordens do Capitão Salgueiro Maia, nunca este disco poderia ter sido gravado em 1969, já que os 3 meses de recruta iriam na melhor das hipóteses até meados de janeiro de 1970.

Como nada se pode deixar ao acaso e ao sabor do vento aqui fica o resultado da minha pesquisa.

LP 'O Canto e as Armas'

Capa de J. Bugalho, acompanhamento à viola de Rui Pato.

Foram dois militares que gravaram este LP num estúdio de Campolide, em Lisboa: o aspirante a oficial miliciano de Cavalaria, Rui Pato, e o alferes miliciano da Polícia Militar, Adriano Correia de Oliveira.

O LP foi gravado em duas noites de patrulha de Adriano. Com a cumplicidade dos restantes militares, o jeep andava na ronda, enquanto o alferes pousava a pistola em cima do piano: o canto e as armas.

Testemunho de Luís Colaço, autor da música de "Canto Da Nossa Tristeza":

O poema "Canto da Nossa Tristeza" faz parte do livro do Manuel Alegre "O Canto e As Armas", sendo o único poema deste disco que não foi musicado pelo Adriano.

(...)

Tinha obtido o livro do Manuel Alegre e o poema que mais me sensibilizou, pela tristeza combatente que transpirava e que era semelhante à que eu sentia ao ter de abandonar tudo e todos - família, namorada, amigos, o último ano do curso de engenharia civil no I.S.T, os Álamos, o Rádio Clube Português, a editora Movieplay etc. - em prol das minhas opções ideológicas e nacionalistas, foi o "Canto Da Nossa Tristeza".

Musiquei-o com esse sentimento, daí a sua harmonia nostálgica tão bem interiorizada pelo Rui Pato no seu arranjo musical para o disco, com uma bela introdução e um solo de viola sensacional.

Obrigado meu grande amigo Rui!

Soube pelo técnico de som Moreno Pinto, da Polysom, que me contactou na Movieplay, onde eu era o Chefe do Departamento de Promoção, que o Adriano iria gravar com o Rui Pato um disco baseado nos poemas do livro de Manuel Alegre.

Desloquei-me no dia anunciado para a gravação (em finais de Fevereiro de 1970, se não estou em erro) aos estúdios da Polysom, em Campolide, disse ao Adriano (que chegou ao Estúdio fardado e armado de pistola à cintura) que tinha uma composição para o "Canto da Nossa Tristeza", poema que ele não havia musicado e propus-lhe que a cantasse no disco.

O Rui emprestou-me a viola dele, cantei-lhe a música "em bruto", ele gostou bastante e depois de ouvir a opinião do Rui Pato pediu-lhe para fazer ali mesmo os arranjos musicais que eu achei óptimos, e depois das outras faixas do disco terem sido gravadas a minha música foi finalmente gravada com o acompanhamento do Rui Pato!

Só grandes músicos conseguiam fazer tal proeza, com tanta qualidade e em tão pouco tempo!

Do que me recordo, todo o disco foi gravado em menos de 24 horas! Uma obra…

Começou de manhã e só acabou alta madrugada quando todas as faixas tinham sido gravadas! E eram 13! Os arranjos musicais do Rui Pato iam sendo feitos música a música, logo seguida da respectiva gravação. Assisti a todas as gravações e no final ouvimos tudo seguido, bem cansados! Só voltei a ouvi-las 2 anos depois! Já nem me lembrava delas.

Esta gravação foi em Março de 1970 e por isso situo a gravação de "O Canto E As Armas" no final de Fevereiro de 1970. Mas, como já disse, já lá vão muitos anos…Uma coisa é certa: o disco não foi gravado em 1969 como por lapso aparece no disco.

Fim de citação

daqui:

https://guedelhudos.blogspot.com/search?q=o+canto+e+as+armas