terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Vieira da Silva - Em jeito de bilhete postal

Em 14 de Abril de 1997 foi realizado em Coimbra, no Teatro Académico Gil Vicente, um espectáculo de homenagem a ADRIANO CORREIA DE OLIVEIRA e foi publicado este livro com textos de vários Amigos do Adriano.

Colaborei com este breve texto:

Em jeito de bilhete-postal ...

E, no entanto, apesar de abril, é urgente ouvir a tua voz. Para lá da inevitável distância que, por momentos, nos separa. Com a tua teimosia de gritar a liberdade sem fronteiras. Contra o saudosismo inerte dos que se rendem ao sossego das homenagens sem futuro. Na recusa permanente dos limites inventados por aqueles que desistem de lutar por madrugadas impossíveis.

Porque só contigo saberemos rasgar este mar de pequenas angústias que se vão somando inexoravelmente junto ao cais vazio deste país. Para que de novo nos ergamos na certeza de cantarmos as mesmas canções de raiva e de alegria pelos caminhos de todos os dias. Na certeza reencontrada de que todos juntos iremos desenhar o espaço aberto que sempre sonhámos sem muralhas.

Ainda que te pareça que talvez seja demasiado tarde para reacender a chama adormecida na memória de todos os que inquietaste, viemos aqui dizer-te que são horas de recomeçar a viagem. Não se trata de romagem de saudade ou de pretexto para revivalismos sem sentido. Estamos aqui. Unidos pelas canções e pelos gestos de coragem que generosamente nos deixaste em cada momento.

Não nos faças esperar.

E, sobretudo, não te desculpes com a morte.

Vieira da Silva
1997

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